Arte na Escola


Casos:
1) Chego na escola e me deparo com um corredor cheio de trabalhos nos murais. Observo que é a parede ao lado da sala do Felipe. Paro e começo a olhar os trabalhos que estão em duas fileiras, um ao lado do outro. Logo encontro o do Felipe e vejo um ratinho desenhado. Nem tão próximo de uma imagem real, nem de desenho animado, mas fácil de identificar já que ao lado estava escrito o que era. Observo os outros e também vejo ratinho em todos os papéis, uns mais coloridos, alguns pequenos, outros com orelhas enormes e assim por diante.
Estranhando todos terem desenhado ratos fiquei parada por um instante tentando entender a proposta, e quando olhei no canto superior da folha estava escrito o nome da história. Conclusão: vamos desenhar o ratinho da história? Uma proposta fechada e única para todas as crianças. Todos desenharam da sua maneira e mesmo aqueles que fizeram linhas ou preencheram a folha toda elas escreveram para sinalizar que era o rato.

2) Então que num belo dia vou buscar Felipe na escola e ele feliz da vida me mostra um trabalho que “havia feito” e que levaria para casa. Uma carinha que sobrepõe outra, no qual conforme a gente mexe mostra as expressões: alegre, triste, feliz e bravo. Brincamos o dia inteiro, Felipe mostrava a carinha e imitava a expressão. Perguntei para ele: quem fez isso? Logo respondeu que havia sido ele com a professora. E tinha carinha, olhos, nariz e diferentes tipos de boca. Detalhe: tudo nos respectivos lugares.

3) Páscoa! Uma data comemorativa que as escolas adoram. Fazem propostas de tudo quanto é tipo. Felipe trouxe para a escola um desenho de um coelho. Quando vi na hora imaginei que alguém havia feito por ele ou para ele. Sem querer tirar o mérito e possibilidade de criação do meu filho, mas mãe conhece o filho e sabe como ele desenha. Quem é professora, mãe e acompanha os trabalhos do filho de 4 anos sabe quais são as representações significativas que faz enquanto desenha, pega um lápis e um papel...Fases do desenho, assim como da escrita. Então, na mesma semana convidei Felipe para fazer um desenho e sabe qual foi a resposta dele? Você! Você desenha pra mim. Eu não sei...

4 e último) Poucos dias antes das férias novamente me deparo com desenhos no mural. Só que dessa vez eram de joaninhas. Novamente a proposta era de acordo com a leitura da história. Olho e vejo a joaninha do Felipe. Era uma joaninha, com as mesmas cores quando você vê uma ao vivo, no mesmo formato e com todas as suas partes, marcas e traços. Então, pensei comigo... O tempo passou, as propostas continuaram, o incentivo, a “mãozinha dada também” e Felipe desenhou sozinho a joaninha. Dei um voto de confiança para a escola, pensei em todo o processo vivido por ele. Mas outro dia estávamos no quarto brincando quando de repente abre o armário e pega uma folha e então começa: precisa fazer uma bola para a cabeça, uma bola para o olho, agora uma bola para o nariz, isso para as pernas ( e faz traços, como uma espécie de pauzinhos). O que deu a impressão de ser algo ditado, algo orientado passo a passo.

Considerações finais:
Trabalhei muito tempo como professora de Educação Infantil. Sempre fui apaixonada por Arte. Adorava estudar, ler e trocar experiências com arte educadora e artista plástica. Sempre incentivei meus alunos a criarem, usando tintas, cores e suportes de acordo com a imaginação. 

Considero importante que a criança conheça quais são as possiblidades de uso do material, quais são as técnicas que existem, que ora podem fazer um desenho de livre criação, ora podem se inspirar num “modelo como uma imagem, a ilustração de uma história ou desenho do colega”. Desde que não haja cópia todo momento, desde que alguém não fique ditando os passos, pegue na mão e não respeite o conhecimento da criança. É preciso criar, ousar e experimentar. Cabe ao professor incentivar e abrir espaços na rotina para esse aprendizado.

E você o que pensa sobre isso? Acha que a escola intervindo dessa maneira faz com que as crianças tenham possibilidade de criar? Que elas tenham vontade de desenhar? Será que estou sendo muito cri-cri? O que você faria?

a) Compraria imediatamente uma tela e um caderno de desenho para seu filho. Além dos materiais de Artes (como pincéis, canetinhas, lápis, papéis diferentes, outros). Se bem que já fiz isso. Deixaria disponíveis para a hora que quisesse desenhar.
b) Começaria a propor também um contato maior com a Arte, fazendo a sua parte, mas sem bombardear de idéias, propostas, visitas aos museus e tudo mais.
c) Solicitaria uma reunião urgente na escola.
d) Desistiria de ficar encanada com a situação, já que tantas pessoas aprenderam dessa maneira.
e) Ou....
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20 comentários:

Mikelli disse...

eu desencanaria...ate pq acho que aqui eles incentivam bastante a criatividade, no momento em que te ensinam a usar as tecnicas. Eu nunca fui criativa..nem quando crianca. Entao pra mim era o maior terror quando chegava na aula de artes e a profa dizia: criem a vontade! =/ eu precisava de um tema ou algo mais concreto. acho que cada um tem um jeito ne?! =) bjs!

Anne disse...

Te compreendo demais!
Joaquim ficou 3 meses na escola e ue só fiz ver defeito nas atividades de "artes".
Arredem ré como ferramenta para introduzir e registrar os outros conteúdos, e nunca com o objetivo de ser canal de expressão real e comunicação da criança.
Detesto essas atividades, Celi. Mas nao sei o que te dizer, por que seria lutar contra todo um sitema educacional, evidentemente mais tradicional do que o que fomos acostumadas e acreditamos!
Tenho para mim quirana do chegar a hora de retornar para a escola, ele vai para uma Waldorf. As "construtivistas" que conheci no bairro se mostraram fachada. Pois uma nao tinha até apostila?
Quase morri.
No seu lugar, investiria em casa mesmo. Um canto livre, um kraftao sempre as ordens na parede. E conversando para ficar claro que lá na escola ele cumpre a proposta da professora (fazer oq) e em casa ele pode desenhar o que quiser e bem entender.
Dureza!

Angi disse...

eu sou cri cri
acho que hoje em dia, é tão mais fácil copiar do que criar!
os professores tem que incentivar a criação, e deixar a imaginação dos pequenos correr solta pelo papel!
não gosto de imposição da escola, por que depois da história eles não podem desenhar o que eles quiserem sobre a história?
eu sou cri cri sim, e nem quero ver quando Antonio começar a ir para a escola, medo!rs
mães cri cris unidas!rs
beijocas

Paula disse...

Eu tbm incentivaria e investiria em casa Celi. Acho que falar com a escola pode ou nao dar resultados e se vc sentir essa necessidade pode até fazer, mas em casa eu incentivaria a criatividade e a imaginacao dele pq assim teria certeza de que está sendo feito alem de ser uma super forma de passar o tempo com ele. Beijos

Ana Paula - Journal de Béatrice disse...

Celi,

Aposte também nas atividades em casa!
Tenta procurar algo relacionado à aplicação de atividades em casa de acordo com a pedagogia montessiona. Tenho alguns livros aqui e eu gosto muito, pois tem dicas de como transformar o nosso lar no aprendizado e estimulo à criatividade, organização, etc.

Aqui em casa uso um rolo de papel (tem uns bem bacanas na IKEA), estendo no chão, brincamos de pintar e fazemos cenarios, paisagens. Tem uma parede onde coloco as "obras de arte" e volta e meia prego uma folha grande (Ju traz do escritorio de engenharia, sabe aquelas folhas de projetos?) na parede para ela pintar com tinta. Ela sabe que tem o "cantinho das artes". Quero ainda pintar uma parede como se fosse uma lousa (tem tinta especial). So estou esperando a Béatrice crescer um pouco para ela utilizar o giz de quadro negro.
Se vc quiser, eu procuro os titulos aqui e te mando por e-mail!

Beijão : )

Paloma Varón disse...

Celi,
Também percebi isso nas escolas que a Ciça frequentou e frequenta por aqui. Na verdade, não é sempre tão direcionado, mas outro dia ela estava estudando Luiz gonzaga e "fez" uma casa de pau-a-pique perfeita. Ora... Eu deixei passar, porque os outros desenhos que vieram eram cheios de rabiscos, bem ao jeito dela.
Eu, no seu lugar, faria as duas coisas, abriria todo o espaço possível para ele desenhar e pintar em casa, sem cobrança nem direcionamento, e proporia uma conversa na escola sobre o excesso de direcionamento e de exigência também.
Eu sou super cri-cri, admito, e preciso escolher as batalhas e também a forma de falar, senão eu viveria em guerra com a escola e não é para tanto!

Mari Hart disse...

Não te acho cri-cri não, ao contrário, te acho antenada e minha "briga" com a escola do Pedro que até contei recentemente no blog, é pelos mesmos motivos.

Veja esse vídeo aqui que retrata exatamente nosso sentimento. é longo, mas vale a pena! Qdo tiver um tempo, sei que vc vai concordar e não se arrepender de ter visto!

http://www.ted.com/talks/lang/por_br/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html

Telma Maciel disse...

Bom... se vc é cri-cri eu tbm sou. O que acho que as escolas e professores continuam com ideia formada de aula de artes lá do século passado... Hoje eu acredito que aula de artes deveria ser pra estimular a criatividade das crianças!
Vejo uns trabalhos da Sofia que me decepcionam... Essa semana mesmo as crianças pegara a capa de algum caderno, picaram em quadradinhos e montaram os quebra-cabeças... Oi? Que isso? rs E eu soube que a escola não abre mão da professora pq ela é formada tem num sei que lá de musicalização etc.
Meu vizinho de 10 anos tem aula com a mesma professora e ele diz q ODEIA a aula de artes. Ora bolas... com aulas tão previsíveis, quem gostaria? Eu tbm queria mais criatividade e incentivo isso por aqui! SEMPRE! Quer fazer uma joaninha azul? Faça... ela é sua! E se um dia a escola cortar ponto ou qquer coisa do tipo por causa de uma escolha 'não ideal', eu brigo!

Dani Brito disse...

Celi, também sou contra esse direcionamento da escola. Acho que isso tolhe, inibe ao invés de estimular.

Vc não é cri-cri é apenas consciente e mais, sabe do que estão falando, pois é um conhecimento que pertence a sua área de atuação.

Super bacana deixar seu pequeno à vontade em casa pra criar, mas eu iria até a escola. Iria sim.

Beijo

Ilana disse...

Situação difícil, né?

Não te acho nem um pouco cri-cri, apenas preocupada com a educação do seu filho. Um direito - e um dever até - seu.

Eu tentaria desenvolver esse lado mais lúdico e criativo da arte em casa. Mas se percebesse isso ocorrendo muitas vezes na escola, acho que iria tentar falar alguma coisa também.

Beijo!

Nave Mamãe disse...

Celi,
Absurdo hein? Se Van Gogh estudasse nessa escola, pronto, Starry Night não alegraria as nossas vidas!
Concordo contigo e não te acho nada cri-cri, as crianças devem exercer livremente a criatividade!
Beijos

Karen disse...

hummm....Também acho que você deveria incentivar em casa, mas imagino que já faça isso de algum jeito. Como agora é verão, deve ter muita oferta de exposições e programas bacanas para fazer com ele, mostrar outras referências sempre é bom...Acho que propiciar materiais e espaço em casa pode ser ótimo e o Thomas vai começar a pintar e desenhar junto com o Felipe. Fora tudo isso, ir na escola conversar pode ser interessante. Não acho que muita coisa pode mudar, mas é um começo e a sensação de ter tentado é melhor. Podemos propor um seminário internacional para o centro de formação também, um curso anual, encontros mensais...algo assim, não acha?
bj

Chris Ferreira disse...

Oi Celi,
acho legal a escola que dar liberdade para a criança criar. Claro que uma orientação é necessária, mas a arte tem que ser deles!
Acho também que as alternativas "a" e "b" são excelentes! Aqui em casa faz o maior sucesso!
Que bom que você gostou da receita do cupcake!
Ficou muito bom mesmo!
Beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

Cathe e Gi do www.kidsindoors.com.br disse...

Eu sou formada em artes plásticas e surtava quando a 1 profe do meu filho me mostrava um desenho LINDO feito por ela com o nome do meu filho e dizia que ele tinha escolhido a cor!!!! :b Como assim! Daí fazia o maior discurso! E dias depois vinha outro desenho, q óbviamente não era dele e ela dizia: mas as mães não gostam que os filhos se sujam, e os pais gostam de recebre desenhos bonitos e todo um blá, blá, bla´! Well, começei a dar folhas, tintas, argila, tudo em casa e combino há 6 anos com meus filhos. CADA LUGAR TEM SUA REGRA. FAZ O QUE A PROFESSORA TE PEDE NA ESCOLA PRA NÃO TE ENCOMODAR, SE NÃO GOSTAR, CHEGA EM CASA E FAZ DIFERENTE! AQUI EM CASA - EM ARTE - VALE TUDO! E agora tá tudo tranquilo! Quando a profe entrega os trabalhos, só sorrio, muito obrigada e deu! :)
Abarços, gisele

www.kidsindoors.blogspot.com

Andrea polo disse...

Sempre estudei em escola tradicional, daquelas que a gente pintava a folha mimeografada...Minhas boas experiências e transgrações artísticas vieram de casa!
Nunca me faltaram materiais para brincar de construir, tintas e madeiras tridimensionais...Minha casa era meu "laboratório" Sobrevivi e hoje faço a mesma coisa com a minha filha mesmo sabendo que ela possui outro repertório na escola ainda acho fundamental que tenha um espaço grande para experientar!!!
Grande beijo,
Andréa Polo

Adrianna disse...

Oi Celi,
Bem... dar liberdade para criar... ainda mais em Artes é imprescindível!
É curioso saber que mesmo em um outro país algumas práticas são tão iguais né?
Penso que desta forma a escola não contribui para a criação não. Contribui sim para a reprodução, a dependência em relação aos adultos e a falta de autonomia para criar... imaginar... experimentar...
Eu ofereceria diversos materiais como você mencionou, mas eu também iria até a escola. Talvez não para mudar a prática (o que talvez seja algo um tanto difícil) mas pelo menos para colocar meu ponto de vista e quem sabe... plantar uma sementinha diferente!
Beijos,
Dri (Santos/SP)

Christiane Thiele disse...

É isso mesmo...estão ditando a forma que as crianças devem desenhar. Meu filho fez Jardim e Pré na escola Suiça em S.Paulo e era a mesma coisa.

E o pior, quando a criança desenhava de forma diferente a professora mandava corrigir...Meu filho tinha um colega com um raro dom para o desenho, com 05 anos desenhava tudo e de forma brilhante. Certo dia desenhou uma menina com o cabelos longos e encaracolado, disse que era sua amiguinha preferida. A professora "subiu pelas paredes." Pelo que soube depois, essa mãe precisou falar com a diretoria para que a professora parace de podar a criatividade de seu filho.
Acho que vc deveria estimular seu filho a desenhar e pintar de forma mais livre, mas tome cuidado para que ele não seja censurado na escola...
Bjs

Anônimo disse...

Eu ofereceria um curso seu para escola, que tal?
As vezes sobra boas intenções mas falta informações, olhar focado.As vezes elas nunca tiveram a oportunidade de pensar sobre o assunto.
bjocas, vivi

Mari disse...

Ola Celi! Achei teu blog pelo MMQD e ja estou seguindo! Este post me interessou particularmente pois sou formada Arte-Educadora (na area do Teatro, estou fazendo um doutorado em Educação e trabalhava nessa area no Brasil antes de vir morar na França. O que me incomoda na atitude da escola que vc descreve nesse post é essa perspectiva do ensino da arte como acessorio no ensino de outra area. Porque fazer desenho com base em historinhas me parece ser mais interessante para aprender a historinha do que para explorar o desenho como forma de criar, não? Professora desenhando pelo aluno também é uma pratica péssima, nem é preciso argumentar muito! Mas quando eu trabalhava no Brasil, via muito isso! Observava muito as professoras e essa era uma pratica recorrente! Isso realmente é um de-serviço à criatividade da criança! nesse caso acho que eu interviria sim! Claro que da para tentar alimentar a criatividade em casa mas a gente sabe que as experiências na escola podem fazer as crianças perderem o interesse por uma atividade... porque quando é a professora que faz a atividade no lugar do aluno, a criança pode entender que ela é incapaz de fazê-la sozinha... se isso é pedagogico eu sou uma macaca! Desculpa o "sanguenozoio" mas esse tipo de atitude é como um dedo na minha ferida!
Adorei o blog! abraços!

Mari disse...

ah, esqueci uma coisa: praticar o desenho totalmente livre (conhecido como "laissez faire") também pode ser prejudicial para a criatividade da criança quando é so isso que é proposto! é preciso dar um estimulo especifico em torno do qual a criança possa imaginar e criar segundo o seu interesse a sua disposição. Se a professora vier com essa de desenho livre todo dia, baseado em nada e coisa nenhuma, desconfie!