Vínculo, afeto, carinho, abraço, beijo...



O brasileiro em si é extrovertido, fala pelos cotovelos, sorri, dá gargalhadas, muitos e na maioria das vezes procuram agradar a todos, mesmo que isso não seja a mais pura verdade, que venha do coração, que haja total sinceridade.

Muito diferente do povo alemão e digo isso pois pelo tempo de convívio percebo que as pessoas são mais sérias, francas, sinceras, independentes, sem rodeios e mais fechadas. Sorrir? Sim! Sorriem para quem conhecem e numa situação específica.

Sou brasileira! Gosto do jeitinho de ser brasileiro! Gosto de uma boa receptividade. Vivo na Alemanha, admiro alguns aspectos do povo alemão, mas outros realmente questiono e se puder pego o binóculo para ver bem de perto.

Apesar das atitudes que as pessoas tem comigo, algumas que me deixam de boca aberta e pensativa, não me incomodam ao ponto de chorar, bater o pé e querer sumir daqui. Convivo numa boa, reclamo, a depender do dia, do meu humor, mas logo passa. Acredito que para o adulto seja mais fácil lidar com o aperto de mão e simplesmente com palavras mais secas, uma comunicação mais sucinta. Mas e as crianças? Como elas ficam diante desse jeito das pessoas e dos próprios pais?

Por um lado pode ser que as crianças não sintam falta de carinho, abraço e beijo. Pode ser que tenham nascido nesse ambiente, no qual há muito mais conversa do que abraço, beijo e conversas sobre os sentimentos. Tudo bem? Outra cultura, costumes! Tudo bem nada! Acho tudo muito estranho...

Lembro de uma escola que trabalhei no qual as crianças me chamavam por Dona Celi, depois quando mudei para cá, lembro das primeiras semanas quando obervava as crianças dando a mão para cumprimentarem as professoras. Até hoje é assim! Acho estranho, principalmente quando falamos de crianças. Não precisa chamar de tia, convidar para ir na própria casa, mas vale um carinho, um abraço, um colo, um beijo e palavras carinhosas. Pelo que observo no Kindergarten é raro. Fazer o que? Acostumei com essas cenas, mas não me conformei...

Sempre observo no Kindergarten a relação entre pais e filhos. Não posso generalizar, pois há poucas mães que abraçam os filhos, beijam ao invés de dizerem somente Viel Späß (bom divertimento!). Esse é um dado real da minha observação, melhor dos momentos que pego meu binóculo.

Outro que já notei são os momentos que os pais levam os filhos aos parquinhos ou mesmo quando estão no jardim (área externa da casa) ao lado deles. Nem sempre parece que há espontaneidade na ação e interação entre eles. Algo que parece uma relação harmoniosa, com grande vínculo, que deve ser um passatempo com sinônimo de diversão, parece muitas vezes uma obrigação, um momento com pouca alegria e receptividade.

Será que estou equivocada? 

O que sei é que preservo o que aprendi desde pequena, o que estudei durante anos sobre criação do vínculo com as crianças. Dar atenção, colo, ouvir, olhar no olho, abraçar e beijar são alguns gestos tão singelos e importantes na relação com o outro, principalmente com os filhos.

Como a gente sabe e não cansa de escrever, dizer, as crianças aprendem conosco, elas imitam atitudes mesmo antes de compreendê-las.

Por isso, preservo esse carinho, esse momento tão importante na minha família! Parece que sou a galinha e seus pintinhos, que quero preservar demais, que sou muito grude, chiclete. Gosto, gosto desse contato físico com meus filhos! É o mínimo que posso fazer para transmitir tanto amor que tenho por eles.

Agora, querem saber o bom de tudo isso? É ver meus filhos, por livre e espontânea vontade, antes de dormir, ao acordar, antes de ir para a escola ou caso o irmão esteja doente falar: Bom dia! Dormiu bem? Você está melhor?; abraçar, beijar, pegar na mão. Enfim expressar carinho com o outro! Uma relação entre irmãos que está sendo construída, com bases tão desejáveis aos olhos dos pais.

Falar sobre sentimentos vividos durante o dia. Sabem que esse é outro aspecto relevante que temos feito diariamente. Sempre antes de dormirem conversamos sobre o dia, fazemos uma retrospectiva, no qual falam sobre o momento mais feliz e o que foi triste ou não gostaram. Uma maneira de pensar, lembrar, comemorar ou mesmo rever atitudes. 

Olham um para o outro, Felipe ajuda Thomas a lembrar os acontecimentos, dá um beijo e diz: “Durma bem!”

Desejo que sejam assim, carinhosos entre si e com as outras pessoas. Tudo isso ao meu modo de ver, toda essa postura depende principalmente dos pais. Precisamos dispor tempo para conversar com nossos filhos. Atualmente há muita informação, uma tecnologia que saltam aos olhos e que se faz cada vez mais necessário a presença, o contato físico, muito carinho e diálogo. 

Também acha que é uma sementinha que precisamos regar todos os dias?

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19 comentários:

iara disse...

Celi, querida e tenha certeza que mesmo depois deles crescidos esse carinho, contato e "pegada", vai continuar. Mais raro, com certeza, mas vai acontecer.
Seu relato é muito bom. Adoro ler suas experiências, que também são minhas.
bjs e saudades.

Renata disse...

uma pena né!
nada como um sorriso, um bom dia.. um abraço, enfim coisas que tornam nosso dia bem mais feliz =D

beijos em vcs.

A Dona do LAr disse...

Claro que sim...vc está certíssima, muitas vezes somos do jeito que aprendemos a ser. Mas, vc contando assim fiquei imaginando as alemãs te observando com os binóculos delas...o que será que acham desse seu jeitinho brasileiro de ser, de abraçar, afagar? Será que acham bonito? Acham sincero? Engraçado como a visão do mesmo mundo pode ser tão diferente. bjo grande Celi e continue assim essa pessoa tão carinhosa que vc é, seus filhos só tem a ganhar.

Dani Rabelo disse...

É Celi, concordo contigo, sim. Fundamentalmente, todo ser humano precisa de carinho, de amor, de cuidados, precisa se sentir envolvido, seguro e amado, sejam alemães, portugueses, africanos ou brasileiros. Todos precisam disso.

Temos sorte (sim, eu acho que é sorte) de sermos assim, expansivos, criativos, queridos uns com os outros, amáveis e carinhosos, acho o povo brasileiro simplesmente fantástico, embora o pais, como um todo, seja um lixo para morar (desculpa aí, mas é a minha opinião e, infelizmente, não posso sair daqui, mas vislumbro essa possibilidade em alguns anos e sairei, sim).
Família é tudo o que há de melhor no mundo e isso tem que ser cultivado, abraçado, tem que ser criado o laço entre pais e filhos. Acho que essa política de "completou 18 anos vai morar fora" é bacana por um lado, mas muito triste, por outro. A criança/adolescente já é criada sabendo que terá que sair da casa dos pais, que terá, por obrigação, que morar fora, morar longe, que se virar sozinho, como um bom adulto. E acho que torna-se mais fácil para a mãe e o pai quando não há a dependência física do filho com eles. É a única razão pela qual eu entendo esse distanciamento pais e filhos (fora a questão cultural mesmo)...
Uma pena, sem dúvida.

Só posso agradecer por ter uma filha que ama carinho, por ser uma mãe que adora estar com ela no colo, beijar, abraçar, passar sapinho... =)

Beijos grandes, querida!!

Cris disse...

Não tenho dúvida que é uma sementinha que devemos regar sim todos os dias. Venho de uma família que não é de muitos beijos, abraços ou demonstrações de carinho (por serem descendentes de alemães, talvez?), por isso aqui em casa faço questão de abraçar e beijar muito, conversar e dar atenção o quanto posso.
Quanto ao seu pé atrás em relação aos alemães... é mesmo uma cultura muito diferente da nossa. Tenho uma amiga que mora há muitos anos aí, casada com um alemão, e até hoje ela estranha o jeito e a dificuldade de fazer amigos, embora esteja super bem adaptada e sem nenhuma vontade de voltar a morar no Brasil.
O legal disso tudo é que em casa você pode passar todo o calor e o jeito de ser brasileiro para seus meninos, e usufruir de toda a infraestrutura, organização e segurança alemãs.
Gosto muito das suas reflexões, Celi, beijo pra vc!

Juliana Tassi Borges Zenaide- Contos de Mãe disse...

Concordo Celi.
Muitas vezes as pessoas inclusive, nos olham admiradas ou atordoadas com este nosso jeito carinhoso com nossos filhos, né?
Aqui na Suíça já percebi estes olhares várias vezes enquanto estou beijando e até mesmo de mãos dadas com os dois, o que aqui é raro. Geralmente os pais não andam de mãos dadas com as crianças.
Mas vejo outras manifestações de carinho que me mostram que há uma preocupação, por exemplo, na alimentação. A maioria dos suíços são preocupados em optar por uma alimentação saudável para as crianças e estão sempre brincando com eles nos quintais e parques. Claro, sem generalizações, né?
O exemplo é o melhor caminho.
Beijo querida!!

Fernanda disse...

Querida Celi,
Eu sei que é assim na Alemanha. minha tia morou 20 anos na Suíça (acho que é parecido com a Alemanha) e sofria muito com esta "distância". Eu também teria dificuldade em lidar com isso... Aqui em Portugal as pessoas são um pouco menos afetuosas que os brasileiros, mas são muito carinhosas com as crianças, beijam muito, abraçam muito, mimam muito. Hoje mesmo na escola do Antonio o amiguinho dele veio correndo me abraçar e me dar um beijo, nem me conhece... morri com tanta fofura... Eu adoro manifestações de afeto no geral, sou igual a vc neste aspecto... Que maravilha seus filhos serem assim, serão alemães que farão a diferença levando mais afeto para a vida das pessoas. Quer queira quer não provavelmente esta é a melhor e mais marcante característica dos brasileiros!!
Beijinho :)

Anônimo disse...

Olá Celi, tudo bem?
Eu acredito que isso é uma questão cultural e nós brasileiros gostamos do contato físico, da conversa, carinho, o que eu acho legal sim!!É uma característica única de nós brasileiros que considero importante preservar com as crianças.Acho difícil educar sem afeto, vai até contra algumas teorias!
Continue assim preservando o afeto, carinho e interação com seus filhos, é uma delícia!!
Beijos

Anônimo disse...

esqueci de assinar meu nome Celi..
Bruna

Celi disse...

Obrigada querida Iara. Uma forma de você ter sua amiga aqui por perto, não é mesmo? :)
Um grande beijo.

Celi disse...

Nem fale Re. Sabe que eles fazem um tanto, mas de uma maneira muito diferente da nossa. Eles preservam muito a privacidade e às vezes me parece que é exposição demais. Jeitos de ser bem diferente!
Beijos

Celi disse...

Pois é Francine. Sabe que ter essa visão do mundo bem diferente é um ganho para todas nós, pois assim enriquecemos com o outro. Aprendemos um tanto! Já imaginou se todas nós fôssemos iguais? Melhor assim... mas que traz muitos pensamentos ahhhhh isso sim....
Sabe que vivo bem por aqui, mas tenho a impressão que questiono demais sabe?! Talvez não esteja 100% fazendo parte dessa cultura, dessa vida na Alemanha.
beijos querida.

Celi disse...

Ótimo Dani!
Agora, quer saber de uma coisa? Apesar de muitos questionamentos, de perceber uma cultura muito diferente, faço um esforço danado para viver bem por aqui, ao lado deles. Sabe por que? Justamente por essa questão que colocou sobre morar, viver no Brasil. Não quero um tanto de coisas para meus filhos, sabe?! Também percebi o quanto está difícil viver nesse país. Amo de paixão, mas ultimamente está difícil mesmo!
Quero preservar meus filhos, quero segurança e tranqüilidade.
Beijos querida para vc e outro especial para a Laura.

Celi disse...

Cris adorei seu ponto de vista. Obrigada por compartilhar o que observa e tem como experiência a sua volta. Acho que é isso mesmo! Jamais teremos tudo, talvez idealizamos demais, sabe!? Cada um do seu jeito! Vive-se bem também!
Por isso, seguimos conforme acreditamos que seja o melhor para nossos filhos. Não é mesmo?
Que bom que gosta dos meus posts. Fico feliz! Seja muito bem vinda e volte sempre que quiser...
beijos

Celi disse...

O exemplo é o melhor caminho e sabe Ju que realmente não dá para generalizar. Essa é a impressão que passam para nós, mas talvez nem seja tão relevante assim. Jeitos diferentes de ser! Temos que respeitar e pensar que cada um manifesta de uma maneira o carinho pelo outro!
Não é mesmo????
Agora, podemos ter preferências e acredito que o nosso jeitinho é melhor, que favorece muito mais na questão dos sentimentos, afetividade dos nossos filhos.
Um grande beijo.

Celi disse...

Fernanda que bom que em Portugal é assim... Fico feliz de saber que nem todo lugar na Europa é igual. Sabe que os amigos dos meus filhos ficam me olhando quando faço um carinho neles. Acho que pensam: Como assim essa mãe fazendo isso em mim!? Que estranho! hahahaha
Mas o bom de tudo é que podemos transmitir todo esse carinho e jeito de ser para nossos filhos. Quem sabe fazem a diferença perante os alemães, outras culturas presentes aos arredores.
Vamos apostar nisso! E mais ainda vamos fazer isso para a felicidade da nossa família. Acho que esse é o melhor ganho... Educar para sermos felizes! Para ser uma família unida e cheia de carinho para dar.
Beijos

Celi disse...

Bruna é isso mesmo! Respeitamos o jeito deles, mas fazemos do nosso jeitinho brasileiro.
Vai dizer que não é uma delícia receber um abraço apertado, um beijo!? Tão bom receber um carinho.
Talvez eles nem sejam tão distantes assim... Talvez manifestam de outra maneira, sem tanta exposição perante o outro.
Beijos

Celi disse...

Bruna uma dica... caso queira comentar deixando seu nome diretamente, sem sair como anônimo é só vc comentar como nome/URL. Assim vc digita somente seu nome, ok?
Beijos e obrigada pelo comentário e leitura freqüente dos posts .

Sarah disse...

Nossa Celi, acho que eu não conseguiria deixar Bento na escola sem dar um beijo e um abraço! Sou "grudenta" mesmo, ele acabou acostumando e gosta de colo até hoje. Acho que seus meninos são assim por sua espontaneidade com eles, por não deixar suas raízes se perderem mesmo convivendo com outros costumes. E está certíssima! Que eles permaneçam carinhosos entre eles, com a família e os amigos!
bjos