Sentir-se filho único

Sempre tive em mente que teria mais de um filho. Acredito que isso deve-se ao fato de viver rodeada de irmãos. Ah, como era bom e admirava ver a minha mãe rodeada de filhos. Levava minha irmã para o curso de inglês, emprestava o carro para meu irmão, levava meu outro irmão para o judô e junto comigo íamos para o balé. Velhos tempos! Mãe dá conta de tudo e mais um pouco.

Tenho muitas recordações boas dos momentos que ficávamos juntos em casa. Brigávamos, ficávamos de mal, de castigo, mas também sempre fomos muito cúmplices. Aprontávamos e pedíamos um para o outro guardar segredo de coisas que não queríamos que nossos pais soubessem. Como é bom ter um irmão! Hoje mesmo distante de todos sei que estão lá, que me querem muito bem e que posso contar a qualquer hora. 

Temos nossas diferenças e, agora, talvez entenda ainda mais os reais motivos de algumas vezes não me ouvirem e agirem como gostaria que tivessem feito. Vivemos momentos diferentes, temos nossas preocupações diárias; mas o que jamais ficaram distantes foram o respeito e o carinho.

Hoje a emoção toma conta quando penso nos meus irmãos e o quanto desejo que meus filhos tenham entre eles uma relação de amizade, carinho, respeito e cumplicidade. 

Sei que para isso faz-se necessário um convívio diário. Convívio que possibilitará conhecer o outro, entender as características da idade e o jeito de ser. Isso leva tempo! Muito tempo! Por isso, percebo quanto o papel dos pais é de suma importância para que haja uma construção sólida, verdadeira e de amor entre os filhos.

Desde o momento que um bebê está na barriga o irmão pode estabelecer um vínculo e começar a compreender o espaço que o mesmo terá na vida de sua família. A intervenção é fundamental! 

Os pais devem olhar o filho com características próprias que definem a personalidade. Ainda que sejam pequenos, como é o caso dos meus meninos, temos feito de tudo (pelo menos achamos...) para que passem a olhar um ao outro como irmão, como alguém próximo, amigo que precisa ser respeitado e que tem muitos direitos enquanto irmão e filho. Tendo o direito de ser filho único!

Filho único no sentido de ser uma pessoinha com um jeito de ser tão próprio e incomparável a qualquer outro filho, a qualquer outra criança. Lógico que comparações são inevitáveis, mas tomamos muito cuidado quando, onde falamos e como referimos frente a eles. 

Filho único que tem direito de ter momentos exclusivos com os pais. Como é importante que sintam-se acolhidos, que não haja atenção dividida e que possa brincar, passear, conversar, ficar bem grudadinho só com o papai ou com a mamãe. Procuramos favorecer esses momentos principalmente para o Felipe, sendo o filho mais velho no qual cada dia torna-se mais autônomo. Percebo que eles vibram por cada minuto, tempinho que ficamos só nós dois. Já temos alguns momentos marcantes durante o dia do Felipe como a hora do banho, no qual brincamos com os bichos de plástico fazendo de conta que nós somos os bichos. A hora de levá-lo e buscá-lo na escola, que fazemos com que seja uma curtição total quando vamos no caminho procurando por caracóis, apostando corrida, quando o pai sugere que assistam um filme juntos deitado na mesma cama etc. São poucos minutos e algumas horas do dia que fazem uma diferença imensa para sentir-se único e com um espaço garantido na família; tendo o sentimento de pertencer e fazer parte do coração dos pais. Fundamental para o desenvolvimento.

Filho que sabe e vê que não está sozinho em casa, mas que tem direito de brincar, de ter oportunidade de fazer algo que gosta sem a presença do irmão. Como é importante que ambos percebam o quanto é bom ficar junto, mas que existem instantes na vida que também é muito bom ficar sozinho. Devendo acontecer e ser respeitado desde já, ainda que sejam pequenos.

Estamos vendo fortemente como nossa intervenção está ajudando na construção de um bom relacionamento entre os meninos. Thomas está na fase de mexer em tudo e muitas vezes se impõe de tal maneira querendo ocupar o mesmo espaço do Felipe, em querer brincar com os mesmos carrinhos que ele. Por ser pequeno, está começando a ter noção do que pode ou não fazer para o irmão.  Tanto que faz algumas coisas e já olha para nós. Como se diz: "- Olha o que estou fazendo!" (com um sorriso no rosto)

Eles brincam juntos. Gostam da presença do outro e já mostram sentir falta quando um está dormindo ou mesmo em outro ambiente da casa. Mesmo assim, tem hora que é inevitável, brincam, brincam e logo começam a disputa por um brinquedo. Falamos uma vez com eles. Explicamos para o Felipe que Thomas é pequeno e precisa de ajuda, que pode dividir ou emprestar os brinquedos. Felipe muitas vezes entende, brinca junto, empresta, mas também tem vontade de brincar no exato momento com muitos dos brinquedos que foram escolhidos por ele. E aí, o que fazer? Procuramos variar as nossas intervenções fazendo com que ora Felipe acolha o irmão e ora brinque sozinho. Pois também tem todo direito! Tiramos o Thomas da situação e Felipe fica super bem brincando sozinho até que, logo mais, cansado, novamente vem perguntar pelo irmão: “- Mami, cadê o Thomas?” “-Thomas, acordou?” 

Essas são algumas das situações que farão parte sempre da vida dos pais de quem tem mais de um filho. Situações que são importantes de serem mediadas pelos pais. Um ciclo constante.

Agora, vem cá... Me diga se não é gostoso ser filho único por um tempo! Filho único para brincar, filho único para ficar sozinho ao lado do papai e da mamãe. 

Por outro lado, como é bom ter irmão. Irmão para compartilhar, para dividir as alegrias, para brincar, para brigar, para ser cúmplice, para chorar, para contar....

Uma alegria radiante e uma união sem tamanho! Ser irmão, ter irmão e poder ao mesmo tempo, ser único!




  
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6 comentários:

Neda disse...

Adorei Celi
É assim que eu me sinto, não somos muitos, mas espero que meus filhos tenham uma relação como a que eu tenho com as minhas irmãs.
Bjs

Ann disse...

Oi Celi,
Eu tinha um irmao 9 anos mais velho e nunca nos falamos, culpa dos meus pais que permitiram que isso acontecesse, sempre fomos estranhos, ele faleceu no ano passado e estou ainda me sentindo perdida em relacao ao sentimento. Meus filhos tem a mesma diferenca entre eles, 9 anos, todos os dias, faco questao de ensina-los o amor de irmaos e a cumplicidade como vc mencionou. A pequena esta na mesma fase que o seu, mexe em tudo e invade o espaco do maior, que as vezes fica bravo, mas ai entro eu, e explico, amenizo e tudo acaba com um abraco forte e um beijo estalado (da parte dela que acabou de aprender :))

Camila disse...

Querida, já ouvi a frase algumas vezes e concordo mto: "o melhor presente que uma mãe pode dar a um filho, é um irmão!".
O que vc acha???
Bjos,
Camila
http://www.mamaetaocupada.com.br

Anônimo disse...

Lindo seu texto, Celi.
Eu tenho um irmão e uma irmã mais novos, nos vemos bastante mas não somos tão próximos emocionalmente quanto eu gostaria.
E penso muito nisso, no que quero para minha família. Nunca pensei em ter filho único, então é questão de tempo até Raphael ter um irmão/ã.
Vamos ver se eu consigo me sair melhor que meus pais nesse aspecto...
Beijo,
Ilana
(só consegui postar como anônimo,não sei porque...)

Paula disse...

Faco coro com as outras meninas ótimo o seu texto e muito melhor a forma q vcs resolveram educar os seun meninos. Um dos meus maiores medos em relacao a ter outro é justamente esse, nao ser capaz de dar atencao individual pra cada um como eles merecem. Esse texto me fez sentir que nao é tao dificil assim. Beijos

Renata disse...

Adorei esse post e a forma com que vc coloca a importância de olhar para cada um dos filhos como "filhos únicos". Afinal de contas as diferenças existem, além do gostinho bom de ser um pouco exclusivo de vez em quando. Hoje memso estava conversando com a minha sogra sobre isso. Ela me contou que foi muito bom uqando ela percebeu que cada um dos três precisava de um tipo de intervenção diferente, pois reagiam de formar muito peculiares. Que bom que vc e o Bóris estão conseguindo ter esse olhar especial para cada um dos pithucos!