Arte na Escola II

Não vou desistir de tentar entender algumas coisas que acontecem na escola (Kindergarten – Educação Infantil). No último post que contei vários casos sobre as propostas de Arte muitas de vocês me apoiaram, dizendo que não sou nada cri-cri. Ao mesmo tempo, disseram para desencanar, para pensar que há muitas formas de intervir em casa, de favorecer avanços na criação e na área de Artes com o Felipe.

Concordo com muitas idéias apresentadas, acho que não é o fim do mundo (quase lá...rs). Mesmo porque aprendi de uma forma totalmente diferente, na época que tinha propostas de desenhos mimeografados. Lembra disso? Hoje estou aqui, mas confesso que não sou totalmente criativa, percebo que não tenho um traçado solto e um repertório grande de idéias.

Não desejo que meu filho seja artista. Apenas quero que desenvolva o lado criativo, que possa se expressar através da Arte. E sei que para isso precisa haver incentivo, oportunidade, contato com a Arte e com um amplo repertório de imagens. Posso fazer a minha parte, mas também quero que a escola faça o papel dela, tenha argumentos, seja coerente com as propostas e respeite a produção individual de cada criança.

Da maneira que Arte é apresentado para ele tenho a impressão que só haverá técnicas de desenho. Mais nada. Por isso, minha preocupação. Vai além da área de Arte, vai na formação do meu filho, mesmo que só tenha 4 anos de idade. 

Percebo que na Alemanha as coisas já são mais estruturadas, mais sistemáticas de alguma forma e não gostaria de ter um pequeno “militar” em casa. Entende? Talvez esteja exagerando um pouco, mas realmente me preocupa a maneira como ensinam. Não quero que fique preso a modelos e as técnicas para fazer um desenho. Já foi o tempo, não?

Também não estou pedindo solução imediata para isso. Sei que o contexto é outro, que dificilmente mudamos algo que já está enraizado e quase enterrado. Algo forte na cultura de um país. Mas tenho o direito de expor minha opinião, de dizer um tanto que me incomoda e não fechar os olhos para algumas coisas. Pois olhe isso! Compartilho com você...

O que pensa? O que enxerga nesse desenho? (A foto não saiu perfeita, mas dá para ter uma ideia)


a) Nada
b) Um desenho praticamente apagado
c) Um desenho feito com material inapropriado para a idade
d) Um desenho cuja criança apresenta um traçado fraco, leve
e) A escrita da professora
f) Nenhuma das alternativas acima
g) Outra alternativa

Cheguei na escola e logo vi esse desenho no mural. Havia um desenho de cada criança do grupo e todos eram sobre o mesmo assunto: O que você fez nas férias? Já que estava escrito, observe no rodapé da folha.

Em cima, no canto direito o nome da criança e a data. No meio, espalhado por toda a produção a nomeação de cada elemento desenhado pela criança.

Agora, a minha pergunta é: Pra que? Por que escrever na produção da criança? Assim como a resposta do meu marido: Ah, para os pais saberem o que a criança desenhou. Ahhhh, e a mesma não pode contar o que fez? 

Tanto que imediatamente, enquanto estava olhando a produção das crianças Felipe se aproximou e começou a dizer: Olha mami! Olha o meu desenho! Aqui é uma “casa” (casa? Todas as crianças desenham casa), aqui sou eu, a vovó, aqui é a porta (detalhe: ele mostrou a porta, mas estava escrito janela). Enfim, orgulhoso mostrou o desenho das férias. Ele brincando com a vovó. Na hora super validei a produção do meu filho, mas fiquei pensando em uma série de coisas. Natural, não?

Primeiro porque a necessidade da escrita, se ele soube me contar tão bem o que tinha feito. Na minha opinião, a escrita do adulto invade a produção da criança, desconfigura tudo que havia feito. Perde o sentido. Uma intervenção desnecessária. Ao mesmo tempo penso que se quer escrever, então escreva, mas atrás e não no meio do desenho da criança.

Outro aspecto que chamou minha atenção é o fato de terem oferecido lápis de cor para o desenho. Não é totalmente ruim, mas desde que não seja sempre. Mesmo porque vamos pensar nas crianças, elas adoram cores e de preferência as que apareçam no papel. Acho que perde o encanto, a vontade de desenhar com lápis de cor. Além do mais, as crianças precisam ter firmeza para segurar o lápis, para traçarem de maneira que apareça. Felipe, por exemplo, apresenta um traçado que não é firme, definido. Está aprendendo a desenhar! Certo? Então, por que não estimular ora com um material, ora com outro?

Percebo a frequência dessas propostas (escrita na produção, presença constante do lápis de cor, uso somente da folha sulfite). Por isso, questionarei a professora. Cheguei no limite. Mesmo porque noto uma diferença de conduta entre as três turmas. Quero saber os reais motivos dessas propostas. Pelo menos para entender um pouco, aceitar, continuar discordando de algumas coisas ou discordar de vez, de tudo, para procurar outra escola.

E detalhe, já comecei a me informar sobre escola Waldorf. Será que estou sendo muito radical? Sei de um tanto de escolas na Alemanha que apresentam essa proposta, porém na região onde moro não é tão comum. Mas juro... ando pensando seriamente sobre a educação dos meus filhos.
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17 comentários:

Lu Iank disse...

Celi
eu sou completamente ignorante em educação infantil,por isso não posso opinar a respeito da aula de Arte oferecida na escola dos meninos.
Vou começar a ter novamente contato com escolinhas e afins na semana que vem, qdo a Mariana começará no kindergarten. Por enqto sei que a escola adota o método Waldorf e Montessori em determinadas coisas. Vamos ver, estou bem ansiosa.
Qto ao seu caso, acho que vc faria bem em conversar com os professores e responsáveis, já que vc tem conhecimento tecnico para isso.
bjs

Telma disse...

Celi, vc tem muita sensibilidade e está corretíssima na sua posição! O problema é que deve ser o método da escola, ou pior , pode ser uma característica muito forte da cultura. Um absurdo tudo o que vc observou e concordo totalmente com seu ponto de vista! Vá conversar na escola e dependendo do que te falarem , considere muda-ló para outra. Com certeza aí deve ter alguma no método montessoriano. Será que não?! Obrigada por ter me prestigiado lá bá Angi! Beijos querida!

Carol Garcia disse...

concordo com vc, celi.
as crianças precisam ser estimuladas, precisam de cores e saber se expressar desde cedo.

bjocas

Dani Rabelo disse...

Celi,

vale a pena conversar com o corpo docente da escola, não?
Eu não entendo nada de desenhos, nem de metodologia waldorf (ou outra), mas entendo de ser mãe e qdo a gente não concorda com algo, tem que questionar. Não incentivo a discussão, claro - e acho que nem vc discutiria pesadamente sobre o assunto - mas entendo a apoio 100% a natureza da sua questão, se está sendo coerente com a evolução do Felipe e se ele está entendendo o que acontece (pq ele não pode se sentir menor pelo fato de a professora escrever no desenho dele, não é justo realmente). Entendo que esse ponto maculou o desenho que ele fez e se sentia orgulhoso, aposto que ainda sente. Mas pra nós, adultas, de fato mostra um controle bobo no desenho dele, essa questão de escrever. Puramente autoritário, me parece. E, de fato, se ele estava explicando tão bem, não precisava escrever o que era.

Converse com eles e entenda melhor os porquês. Vai te fazer bem, tenho certeza.

Beijo,

Dani,

Mariana - viciados em colo disse...

celi,
acho que você está certa em questionar. pergunte, pergunte, pergunte até entender. realmente não lembro de ter tanta coisa escrita nos desenhos dos meus filhos, até porque com quatro anos, eles já conseguem desenhar algo mais "real" explicar do que se trata.

nas três escolas (duas de alice e uma de arthur) eles usam muitos suportes: lixas, papelão, papéis mais rugosos, brilhantes, foscos, etc. com diversos e várias técnicas: lápis de cor, de cera, hidrocor, tinta, muita tinta, algodão, recortes, tecidos, folhas, etc...

estou encantada com o que venho lendo sobre as escolas waldorf. se eu não tivesse achado a "minha" escola, talvez fizesse essa escolha, mesmo tendo que me adaptar geral à proposta! pesquise: talvez valha a pena mudar ou ter uma carta na manga!

beijoca

BLOG DA BIA disse...

Em matéria de Artes, WALDORF com certeza!
Natureza, integração com o humano em nós, WALDORF!
Expressão de diversas formas, qualidade no fazer (capricho), trabalho em conjunto e completo (começo, meio e fim), WALDORF!

Mas Waldorf é filosofia pra família inteira. Analisem a disposição de vocês nesse "empreendimento".
A opção escolar deve refletir a opção de vida da família, mas geralmente as pessoas não pensam nisso...

De antemão, quero parabenizá-la por acompanhar o desenvolvimento de seu filho. Que sorte a dele!

Paloma Varón disse...

Celi, realmente eles não precisavam mais escrever num desenho de uma criança de 4 anos. E, se o fizessem, que fosse atrás. Mas, pelo que vc conta, está tudo muito direcionado. Também considerei o material inapropriado, mas releve se houver outros trabalhos com materiais diferentes.
De qualquer forma, se puder olhar uma escola Waldorf, acho que se encaixaria melhor para a sua família. Enquanto isso, pergunte mesmo, sempre numa boa, mas querendo entender a proposta pedagógica da escola.
Beijos

Telma Maciel disse...

Celi, eu concordo com vc. Volto a dizer q temos mania de interferir nos desenhos dos nossos filhos pq foi assim q aprendemos (e sabemos q somos travados...). Eu não tinha paciência com as aulas de artes da Sofia: pega uma folha de caderno, corta em quadradinhos e... criamos um quebra cabeça! Agora cola no caderno, com aquele tanto de beirada saindo... Depois, pega um desenho e colore aí. Pronto.
A professora teve um problema sério antes das férias (um louco assassinou sua filha) e ela não teve estrutura pra voltar a dar aula. Trocaram a professora: nova, com outras ideias, me parece. Pq os exercícios já passaram a desenhos de observação! "Olhe pela janela e desenhe o que você vê" e aí é livre, né? E a criança vai ter que contar pra professora o que ela desenhou.
Sofia já tem quase 7 anos, já tem capacidade pra fazer esses desenhos, mas não tinha sido treinada antes. Ela adorava desenhar, mas agora, pra escola, é difícil...
Por isso, treine, converse com a professora. Os desenhos tem q ser livres, as crianças tem que saber explicar os próprios desenhos (isso treina a concentração e memória deles tbm)! Afinal, são os desenhos deles, né?
BBjks e depois volte pra contar o que resolveu!

Laiz disse...

Oi Celi...aqui em Curitiba tem 3 escolas com o método Waldorf... tenho uma amiga com 2 filhos em uma delas! Ela amaaaaa!!! Sempre me estimula a colocar o Nino lá... Pode ser uma boa sim! outro foco...outro método! Beijinhossss

Kelly Stein disse...

Eu ia escrever sobre a opção Waldorf mas a Bia já falou tudo... o problema de colocar as crianças em uma escola antroposófica é ser incoerente em casa. Rola controvérsias se as filosofias dentro e fora da escola não são as mesmas... enfim... na escola da minha filha colocaram um papel na pastinha dela falando que, ao trazer lição p/ casa (normalmente é relativa a desenhos) devemos observar a 'coerência' entre a realidade e a o desenho, incentivar o uso das cores corretas... tipo, a Lara adora desenhar nuvem cor de rosa, a prof. diz que nuvem é branca. Nãaao, a nuvem pode ser da cor que ela quiser... e qdo o sol nasce e se põe ela é rosa sim senhora!! hunffff... não gosto que cortem a imaginação da criança, criando limites, impondo regras. Se elas gostam de fazer casinhas redondas, que elas sejam redondas ué... :D

Adrianna disse...

Oi Celi,
A Pedagogia Waldorf é muito especial, principalmente no que se refere às Artes. Eles dão muito valor e tudo ocorre com muita intensidade nesta proposta. Minha monografia da graduação foi sobre Artes nesta pedagogia.
Se não está contente com a atual, penso que a melhor coisa e procurar uma que deixem vocês mais felizes e satisfeitos!
Beijos,
Dri

Nave Mamãe disse...

Não acho radical Celi, acho uma preocupação natural e embasada. Teria/terei as mesmas.
Só ouvi falar no método Waldorf agora, há pouco tempo. Não me aprofundei muito, mas, grosso modo, concordo.
Esses primeiros anos letivos interferem em toda a personalidade futura da criança, não acho que dê pra fechar os olhos pra isso.
Beijos

Adri Portella disse...

Bom....nem sei o que falar....mas, como já havia colocado antes, cada um tem uma metodologia, com certeza, passa longe da filosofia que acreditamos, uma pena, pois a escola é maravilhosa, cheia de coisas bacanas e que ajudam e muito na criatividade.
Acho que tem que fazer o que manda seu coração. Se vai se sentir mais tranquila, procure outra escola sim, por que não???
Bjs

Chris Ferreira disse...

Oi Celi,
eu concordei com tudo que você escreveu! Não posso dizer nada diferente disso! Mas o importante é que você está atenta!
Obrigada pela participação no sorteio das sacolas recicláveis!
Muito boa sorte para você!
Beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/

Lu disse...

Oi Celi,

você está certa em questionar sim! Eu faria o mesmo. Talvez seja a metodologia da escola (e ai vc tem q avaliar se vale a pena deixá-lo ai, por esses e outros fatores), talvez seja pq a professora não se liga nessas coisas e é capaz de até gostar das tuas idéias! Nunca se sabe, não custa tentar!

Fora isso, você pode fazer muitas coisas com eles em casa, tem um blog q descobri ha pouco e adoro: http://kidsindoors.blogspot.com/ Essa mãe tem uma ideias otimas e criativas de coisas pra fazer com as crianças, acho q voce pode encontrar um monte de exemplos pra fazer com o Felipe, ainda mais agora q vai esfriar e os passeios fora de casa vão diminuir.

No mais, parabéns pela tua dedicação!!!

Beijos

Mari Hart disse...

Queriii, concordo com tudo e cheguei a conclusão de que a escola ideal nunca vai existir em nenhum lugar do mundo! Seja em um país emergente como o Brasil, ou no 1º mundo onde vc vive. O princípio teria de ser um só, a liberdade da expressão da criatividade de cada indivíduo. E acho que sua postura é corretíssima!

Bjão!

Karol disse...

Olá! Conheci seu blog pelo Balzaca Materna. Esse seu texto me chamou muito a atenção... Eu tb fico preocupada (e indignada) com a maneira com que a escola lida com certas questões (não é o caso específico das artes, embora seja uma escola alemã aqui em São Paulo). Com o tempo, fui percebendo tudo o que as pessoas escreveram acima - basicamente que não há escola perfeita e que temos que questionar - mas, sobretudo, percebi que eu sou a referência mais importante para meus filhos e que o fato de mostrar para eles a minha visão das coisas amplia as possibilidades para eles. No caso que vc falou aqui, deixar que eles pintem livremente em casa com tinta à dedo ou com giz de cera, por exemplo, é um gesto simples, mas que certamente irá deixar uma mensagem para eles. Eles terão as duas experiências. Eu, muitas vezes, verbalizo minhas preocupações. Com cuidado e com muito carinho vou falando sobre o assunto e sobre o que eu acredito e espero para ouvir o que eles pensam. Muitas vezes me impressionei.
Vixi! Me empolguei...rsrsrs Era só para dizer que adorei o site e me identifiquei com o fato de vcs estarem sozinhos (sem parentes por perto) com duas crianças de menos de 4 anos. É muito do que vc escreveu no texto para o Balzaca.
Beijinhos...