Partos e sentimentos vividos muito diferentes

Agora que estou na metade da gravidez comecei a pensar como será o meu terceiro parto. Fiquei lembrando como tudo aconteceu na gravidez do Thomas até realmente o seu nascimento na Alemanha. E, se assim posso dizer, foi uma experiência única, marcante e inesquecível.

Apesar dos médicos na Alemanha serem duros e muitas vezes frios com o paciente, mantendo a relação totalmente profissional, com muito distanciamento, eles realmente agem corretamente e sabem da importância do parto normal para a mulher. 

Quando engravidei do Thomas logo me veio a sensação de que seria muito difícil ter um parto normal, já que o Felipe havia nascido de uma cesárea no Brasil. Fiquei com certo ressentimento e medo. Uma situação totalmente nova para mim. Por outro lado, sabia que no fundo queria viver esse momento, já que não foi possível no Brasil.

Hoje, sem dúvida, por ter vivido os dois tipos sou super a favor do parto normal. Realmente consigo enxergar as vantagens para a mulher e a relação mãe e filho. De maneira alguma quero desmerecer quem pense ao contrário, mesmo porque cada pessoa tem sua história de vida e uma gestação. 

Mas no meu caso tudo foi muito marcante e diferente. No Brasil acabei realizando uma cesárea por pouca insistência por parte do hospital e da minha médica, se bem que sabemos a postura de muitos médicos e também como as coisas acontecem no país. Lembro de cada detalhe vivido como se fosse o dia de hoje. Acordei e percebi que minha bolsa havia rompido, fui até a consulta semanal que tinha na semana e logo a bolsa rompeu de vez. Minha médica pediu para ir pra casa, pegar minhas coisas e ir para o hospital. Chegando no hospital não estava com praticamente nada de dilatação. Então, induziram as contrações e me deixaram no quarto. A orientação por parte das enfermeiras foi mínima. Comecei a sentir as dores da contração. No entanto, o nervoso era tanto que nem me dei conta que também estava com vontade de fazer xixi. Nesse meio tempo, as dores foram aumentando, foram ficando insuportáveis e a dilatação continuava mínima. Quando realmente uma enfermeira veio conversar comigo e me orientar, me ajudar a ir até o banheiro, já que estava conectada com um monte de aparelhos. Mas isso aconteceu um pouco tarde, pois nesse momento, já estava no meu limite de dor. Afinal, sem experiência alguma e após uma tarde inteira assim já estava querendo a minha médica para realizar a cesárea. 

Pouca orientação, pouco conhecimento fizeram com que solicitasse a médica e realizasse a cesárea. Foi uma cirurgia tranquila e um pouco assustadora, já que os médicos estavam ali abrindo minha barriga, depois costurando no maior bate papo, falando sobre milhões de assuntos. Eu estava ali com mil pensamentos, prestando atenção em cada movimento dos médicos e eles realizando a cirurgia. Minha maior emoção foi quando vi o meu filho. Não participei do processo e demorei para tê-lo em meus braços. Consequentemente, uma relação mais tardia de mãe e filho. Todo sentimento só veio depois quando tive Felipe nos meus braços no quarto da maternidade. Era uma emoção tremenda, mas diferente demais do dia em que realizei o parto normal no nascimento do Thomas.


Ter participado realmente de cada minuto para o nascimento do Thomas fez com houvesse um grande aprendizado, uma experiência inesquecível e uma relação construída de mãe pra filho desde a primeira respiração e força que tive que fazer. O seu nascimento realmente dependeu dos meus esforços, no qual as médicas estavam ali ajudando e auxiliando no que fosse necessário. Elas me ensinaram, me ajudaram e mostraram a beleza de um parto normal.

Além disso, dessa relação incomparável teve algo que chamou muito minha atenção. A preocupação dos médicos com o nascimento, com a relação mãe e filho. Assim que Felipe nasceu, logo já se preocuparam em levá-lo para fazer todas as medições, para limpá-lo e vestir uma roupa. O máximo foi um beijinho e a possibilidade de vê-lo de pertinho. 

Aqui na Alemanha foi muito diferente! Logo que o Thomas nasceu a primeira coisa que fizeram foi dá-lo para mim. Em meus braços, do jeitinho que nasceu, com um tanto de sangue pelo corpo, veio para o meu peito, ficou juntinho e pode sentir o calor dos pais, ter sua primeira experiência de mamar. Ficou ali por um bom tempo, enquanto as médicas estavam organizando o espaço na mesma sala para os próximos procedimentos com ele. Não saiu de perto de mim até irmos para o quarto.

Foi um sentimento difícil de explicar, muito mais fácil sentir! Um momento de abraçar o filho, de perceber desde o parto o papel e a importância de ser mãe. A “ficha” caiu imediatamente com todo o amor, carinho e relação que podia surgir. Jamais esquecerei! 

Partos e sentimentos vividos muito diferentes, porém um amor imenso por cada filho. Independente do parto, o amor de mãe é o amor de mãe. Mas confesso que nada que um pouquinho de experiência sobre o assunto nesse acontecimento todo. 

Agora, torço e espero que o parto do terceiro seja assim... Uma felicidade inigualável, uma relação imediata e um fazer em parceria.

Curiosidade: Enquanto no Brasil levamos uma mala de roupa para o bebê, na Alemanha só precisamos se preocupar com a roupa da saída da maternidade. Eles tem um tanto de roupa. Um jeito de ser muito mais simples e prático. Confesso que ficava surpresa cada dia que o Thomas vinha para o quarto. Mas jeitos diferentes de lidar com o nascimento do bebê.
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13 comentários:

Nine disse...

Oi, Celi! Adorei conhecer um pouquinho mais da história dos seus dois partos! Adoro ler relatos das mulheres que passaram pelas duas experiências. Nunca li alguém que preferisse o PC ao PN...
Beijos,
NIne

luisa furman disse...

ce
infelizmente a realidade no brasil é essa: mais de 60% dos partos são cesáreas, sem que haja realmente uma necessidade. é um absurdo, e cada vez mais a classe média alta acha normal e chegam a agendar a data da cesária. é o que as militantes do parto normal chamam de "desnecesária".
que bom que você teve essa experiência! a coisa mais linda que aconteceu na minha vida foi o parto da naomi. fiquei umas 18 horas em trabalho de parto, sem dilatação nenhuma... mas tive o privilégio de ter tido uma ótima orientação, uma equipe que me acompanhou o tempo todo, que é a favor do parto normal e que acreditou em mim até o final, me incentivando.
as vezes fico na dúvida se quero ter outro filho (ontem lendo seu post fiquei com mais dúvidas ainda!), mas quando me lembro do parto fico com vontade de sentir toda essa emoção de novo!
boa sorte e beijos na família!

Unknown disse...

que lindo relato Celi! tenho certeza de que vai dar tudo certo querida e o fato de vc já ter vivido o parto normal traz uma segurança muito maior, afasta um pouco das milhares de dúvidas que as vezes pairam na cabeça das mães!

Bjos!

Anne disse...

Que lindo Celi!
Eu ando participando de umas palestras, e estive com um médico que trabalhou como osbstetra muitos anos na alemanha.
ele levantou a questão de que o modelo obstétrico brasileiro é muito absurdo, pois praticamente obriga o médico a ser um cesarista.
de fato, ser atendida no pré natal e no parto pelo mesmo médico, é uma chance grande de ele precisar agilizar as coisas.... e no caso do nosso país esse modelo nos levou aos 90% de cesáreas na rede particular. é assustador.
no fim todas nós cesariadas, só viemos a confirmar os números. olhando friamente, claro temos histórias particulares, mas somos só "mais uma"... sem dilatação, sem isso, sem aquilo...
já na alemanha, ele disse, o pré natalista e o "parteiro"não é o mesmo.
a mulher tem o bb com quem estiver de plantão, não interessa para o médico fazer uma cesárea para facilitar a vida, ele está em horário de trabalho mesmo.
é claro que isso está longe da visão humanizada, disse o doutor. pois ainda assim nos países com altos índices de partos vaginais, nem sempre a mulher é respeitada como protagonista do parto. muitas vezes é amarrada, recebe hormônios artificiais, é obrigada a parir deitada, faz epísio, enfim... uma série de procedimentos. mas que daí, na minha opinião, são menos tensos que uma cesárea, né?
de coração, que seu terceirinho (uau!!!!!) venha do jeito mais lindo possível, atendendo tudo o que vc quer! afinal, que jornada, 3 filhos!!
bjo bjo

Futura mãmã disse...

Oi :a
Bem eu adorei seus relatos de parto e suas experiencias...
COmo foi diferente neah...e sempre diferente..toda a mae fala isso e aqui entendi que de facto e' diferente rs

Retribui-o comentarios ou seguidores...sempre!
Fico a sua espera..Beijo

Carol Damasceno disse...

Celi que relato lindo... Fiquei tão emocionada que me remeteu ao dia do meu parto... Minha cesareana não foi traumática, mas queria muito ter tido um parto normal... Fico mais feliz em saber que você depois do 1º filho cesarea teve um parto normal... Isso traz a tona a minha esperança de sentir as dores..hehehe Infelizmente não tive nenhum sinal... Acho que a Laura estaria aqui na minha barriga até hoje...hihihi

Muitos beijos e que o terceirinho (a) venha com muita saúde e tenha uma terceira história com final feliz igual as outras....

Carol

Futura mãmã disse...

Tou seguindo =D
Beijo

Paloma Varón disse...

Que demais, Celi, que vc teve um VBAC! Torço por um lindo parto normal para o terceirinho, com direito a uma tempestade de ocitocina, o hormônio do amor!
Beijos

Mari disse...

Que legal a tua historia de partos Celi! Me inspirou muito, ja que o meu primeiro parto também foi cesarea (aqui na França mesmo) e o segundo eu queria que fosse natural... Na minha opinião aqui na França o parto e a parturiente são tratados com muito mais respeito e cuidado do que no Brasil. Os médicos são distantes também mas as parteiras são otimas, dedicadas e cuidadosas e estão presentes em todos os partos e no pos-parto também. São elas as responsaveis pelo bem-estar da mãe e do bebê durante o trabalho e logo apos o parto. Acho que isso faz toda a diferença. E depois do nascimento do bebê as mães e os recém-nascidos ficam entre três a oito dias na maternidade, onde são monitorados regularmente e de onde saem apenas quando sua "recuperação" esta adiantada. Os bebês so são liberados quando estão ganhando peso regularmente e todos os exames para eventuais doenças genéticas foram realizados. Acho isso muito mais responsavel e seguro do que o que se faz no Brasil... Dedos cruzados para que o seu terceiro parto seja o mais tranquilo e rapido dos três, viu?? bjus :t

Karen disse...

Adoro relatos de parto: são sempre tão lindos, tão cheios de amor... já fico aguardando pelo seu terceiro :-)

Mas fiquei com uma dúvida: o Thomas não ficou com você no quarto? Pois você disse que ficava surpresa a cada vez que ele vinha para o quarto... Achei que aqui na Alemanha as crianças sempre ficassem nos quartos com as mães. Pelo menos comigo foi assim com a Helena. A Sophia só não ficou pois teve que ir para a UTI neo natal... Será que aí no sul é diferente?

Beijo,
Karen
http://multiplicado-por-dois.blogspot.com/

Cíntia disse...

Eita Celi, mas vc é mulher guerreira mesmo! Parabéns pelos três! Beijos

Ilana disse...

Que lindo Celi...
Você já escreveu o relato desses partos mais detalhadamente? Que tal fazer? É um registro que fica, para nós e para eles.
Sobre a nossa correspondência, vamos escrever sim, claro! Agora neste final de ano estou meio corrida (repara no comentário em post antigo...), e semana que vem vamos viajar. Mas não vou deixar passar, viu?!!
Bjo!

Fernanda disse...

Celi querida, que delícia poder ler o comparativo do parto cesarea e normal pelos sentimentos da mesma mãe...
Então, são estes "detalhes" que fazem MUITA diferença... É o contato precoce da mãe com o filho, ainda todo "sujo", a "participação ativa" da mãe no nascimento do filho, a mudança de foco: o mais importante na maternidade não é a roupinha, é o parto, é o contato inicial que você tem com seu filho, é o vínculo que você estabelece com ele que permeará a relação mãe-bebê. Claro que o amor é igual, mas a experiência do parto normal nos dá uma dimensão diferente!! Outro dia conversando com minha melhor amiga sobre o parto eu disse: "Me senti mais mulher, mais poderosa depois que consegui ter meu filho por parto normal". Ela (que teve 2 cesareanas com hora marcada) disse: "Desculpa, amiga, mas você sabe que isso é uma grande bobagem, né? Você não é mais mulher nem mais poderosa só porque teve um parto normal, você sabe, né?" Eu respondi que "Sim", mas só para não entrar numa grande polêmica, mas quer saber? Eu não acho bobagem!! Foi uma das melhores coisas da minha vida!!! Me sinto sim, mais mulher e mais poderosa por ter conseguido....
Parabéns pelos seus lindos meninos... Beijão